terça-feira, janeiro 5

Espaço Público

Ontem em casa de uns amigos, enquanto furávamos o hábito da não discussão pública que habita o país da inércia, apercebemo-nos que todos querem algo, mas são poucos os que se levantam e o afirmam. São poucos os que se encontram no parque, associações, cafés, entre outros, para "tertuliar" sobre qualquer coisa comum.
Se em Londres a sociedade efervesce em cada esquina, com base no indivíduo activo, que faz e quer fazer sempre qualquer coisa, por exemplo, um encontro de grávidas e mães recentes numa pastelaria para partilharem e discutirem, quais as melhores fraldas, amas, cremes, papas, ou ainda, numa cabine telefónica num bairro emigrante de Londres lia-se: "Terça-feira, às 16h, vamos discutir Obama", por cá evitam-se confrontos de ideias, votando secretamente naqueles que se renegaram em alta voz.
Em conversa comentava-se que em Portugal, no seio da família, das empresas, associações e grupos de amigos, se faz queixinhas nas costas de quem nos importunou, em vez de falar directamente com a pessoa e perceber o porquê, ou simplesmente, aliviar a opressão sentida com algumas palavras directas como "não gostei do que fizeste!". A razão encontrada é tão cheia de cobardia e ignorância que faz dela o básico dos básicos: se eu não der opinião sobre o comportamento dos outros para comigo ou terceiros, não comentar como o outro é teimoso ou castrador, não tenho que admitir que o façam comigo, até porque certamente não o farão. Assim, não tenho que reflectir sobre o meu comportamento, ou levar a dica de que sou teimoso para o travesseiro e quiçá melhorar enquanto pessoa…Assim, deito-me todos os dias com a sensação que todos os outros estão errados, eu estou certo e não preciso de fazer nada para mudar isso.

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