segunda-feira, novembro 24

A bela da musiquinha

Raramente ando de metro. É um facto! E apesar da minha continua, mas ténue, claustrofobia, adoro usar a rede do metropolitano lisboeta quando não tenho pressa de chegar a lado nenhum.
Pois bem , foi isso que aconteceu há uns dias. Dei por mim, sentada no comboio, a repensar coisas já sabidas e constactadas anteriormente, como o facto de ninguem conseguir manter contacto visual por mais de uns meros segundos, ou da apatia durante a viagem e o acordar repentino de uma energia que estava em standby, quando o comboio pára e se chega aquela estação, que é a nossa. Enfim, no meio desses re-pensamentos, reparei em algo novo, 90% dos utilizadores do metro estavam com "fones" nos ouvidos. Incrivel, os portugueses, sejam eles novos ou menos novos arranjaram mais uma forma de se alienarem um pouco mais uns dos outros, enquanto "andam de metro". A verdade, é que é uma óptima maneira de nos conseguirmos abstrair dos medos, ansiedades e outras coisas mais, provocados por certos individuos ou comportamentos observados durante a curta viagem no comboio subterrâneo. Eu, também aderi à moda. Viva a bela da musiquinha!

PS: se és um utilizador assiduo desta rede, não me gozes! Eu sei que não descobri a polvora, mas a verdade é que cada um repara nas coisas a seu tempo. Vale?

sexta-feira, novembro 14

ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor, já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.


Eugénio de Andrade

domingo, novembro 9

xiu

Tento desesperadamente calar-me. Desejo profundamente que todas as células do meu corpo e do meu pensamento se calem. Eu preciso de silêncio.
Preciso de ouvir o nada, para depois escutar o meu fado... Como dizem os Deolinda "andamos todos uma casa ao nosso lado", eu sei que ando, por agora é o máximo que consigo aproximar-me. O silêncio faz falta aqui nesta morada que sou...preciso dormir!

terça-feira, novembro 4

Mudança de "casa"

Já lá vão 3 meses desde que me decidi a mudar de casa. E não, ainda não vos vou falar da maravilha de ter um espaço só para mim, porque ainda não me mudei!
Aliás é exactamente esse processo moroso e completamente louco (dado as pessoas envolvidas no mesmo) que me anda a tirar o sono e a deixar doente.

Medo de viver sozinha? Eu tenho é receio de não ter dinheiro para pagar as contas, ou não ter paciência para arrumar a casa e acabar a viver num ninho de hamster. Agora medo de viver sozinha, numa zona cheia de prédios, onde de vez em quando se ouvem uns tirinhos?? Na, quem devia estar com medo são os meus queridos vizinhos que vão acordar a meio da noite aterrorizados com os meus magníficos gritos, de mais uma cena sonâmbula. Vai na volta, até afugenta possíveis ladrões.

Mas voltando à mudança. Para minha sorte, os últimos inquilinos tinham uma predilecção por cores que fazem lembrar sabonetes. Como é que sei? Pela cor do corredor e do quarto que só de olhar cheirava a alfazema. Enfim! Pensei para mim: Ah é só lilás, 2 demãos de tinta branca e fica novo. Pois bem , enganei-me. Já vou para a 4ª e só agora vejo melhoras. Ainda bem que tenho uma mãe que aspira a pintora e me deu uma mãozinha com o rolo e o pincel. Merci Mami! Já os meus queridos amigos, nenhum teve, ainda,disponibilidade para fazer o mesmo…
Bem, a verdade é que já tenho cama, água e luz e se tudo correr como não é esperado, mudo-me mais cedo do que imaginava.

Irritação crónica

É impressionante o que a falta de descanso faz ao mais calmo e comum dos mortais. Agora imaginem o que me faz a mim, mortal, nada comum, e já com uma tendência para a irritabilidade… Dado que não consigo dormir uma noite seguida sem acordar, sem um ataque de sonambulismo ou outra coisa qualquer, há mais de uma semana, estou em processo de metamorfose. Sim, qual mortal, estou mais próxima de ser uma morta-viva, e ainda por cima perigosa e desléxica (não se admirem de não conseguirem ler este textinho).

De manhã “acordo” (aspas porque é apenas uma expressão que visa a compreensão de quem lê, mas na verdade como é que se acorda, se não se dormiu?) e imagino o bom que era poder ficar na minha cama a tentar dormir o resto do dia, pensamento imediatamente morto pela responsabilidade laboral.
O problema começa quando saio de casa e me dirijo no meu automóvel para o trabalho, ou seja, quando vejo outros seres-humanos, também dentro de um carro e no ic19. Aí, click, transformo-me e toda a rabuja de 10 dias sem dormir é direccionada para o condutor da tanga, que ainda não percebeu que o itinerário complementar mais frequentado do país tem agora 3 faixas.
PORRA! É PARA CONDUZIR O MAIS Á DIREITA POSSÍVEL…