terça-feira, julho 8

O silêncio indesejado

Sentia-se angustiada, com a cabeça pesada do vazio do dia. Lembrava-se dele e a barriga estremecia com a incerteza do futuro.
Deitou-se. Talvez dormir fosse realmente o melhor remédio, como aconselha o povo.
Vira-se para cá, vira-se para lá. Suspira, transpira com recordações e suposições. Ansiosa e sem conseguir adormecer decide ir até ele. Liga o carro e começa a dirigir-se para lá. Normalmente ouve a rádio quando conduz o automóvel, desta vez preferiu não o fazer, pois a sua cabeça já gritava palavras suficientes para lhe dizer quando chegasse.
Finalmente atingiu o destino pretendido. Saiu do carro, tocou à campainha e entrou. Ele esperava-a com a hostilidade habitual, ainda assim, a distância imposta magoou-a.
Começaram a conversa como um comboio que deixa uma estação. Lento, mas forte, decidido, mas cauteloso. Ela esperava a todo o instante que ele lhe dissesse algo simples, algo que a fizesse sentir que ele realmente entendia o que dizia e, principalmente, o que sentia. Mas não, quanto mais ele falava, mais ela tinha a certeza de ter estado sempre certa e ter tomado sempre a decisão errada.
Disse-lhe Adeus, e foi-se embora. De volta ao carro, à estrada, à sua casa.
A realidade é que nunca chegou a sair. A sua imaginação pregou-lhe mais uma vez a partida do costume, tal como ele.
Na verdade, ficou com um pouco do mesmo de sempre, silêncio.